terça-feira, 1 de maio de 2018

Jira Bulahi: «A paz no Magrebe passa por uma solução do conflito do Sahara»


Jira Bulahi, máxima dirigente da Frente Polisario em Espanha

1 maio, 2018 - Fonte e foto: Diario Información / Por Pino Alberola

Com o conflito enquistado há mais de 40 anos, a representante da Frente Polisario em Espanha confia que, em breve, o seu povo possa decidir o seu futuro, «dê Marrocos ou não o seu braço a torcer»
Jira Bulahi é o equivalente a embaixadora dos saharauis em Espanha. Participou recentemente na Universidade de Alicante nas III jornadas sobre o Sahara Ocidental e as universidades públicas valencianas.


Qual neste momento a situação da causa saharaui?

Estamos num dos melhores momentos, já que ocorreram uma série de avanços e conquistas. A nível de África, foi-se consolidando a posição dos estados africanos em diferentes linhas. Por um lado, para a resolução do conflito, uma vez que perceberam que o Sahara é a última colónia e, portanto, é uma questão de soberania, uma mancha no avanço do território africano. Os estados africanos estão também preocupados com a situação política e a questão dos direitos humanos no Sahara.

Contam também com o respaldo da Europa?

Na Europa as várias sentenças dos tribunais de justiça deixaram patente as questões-chave que perpetuam esta violação dos direitos humanos. Estas sentenças deixam bem claro que qualquer pacto com Marrocos é aceitável sempre que não abarque os territórios saharauis. Deixa também claro que quem tem a soberania sobre os recursos desses territórios é o povo saharaui e que o representante desse povo é a Frente Polisario.

Acha que Marrocos irá dar o braço a torcer para acabar com este conflito que remonta há mais de 40 anos?

Este conflito vai ser resolvido. Se, finalmente, Marrocos vai dar o braço a torcer é algo em que não entramos, já que persiste em não querer ouvir e conta com o beneplácito de muitos países europeus. É uma questão de justiça e um exemplo para todos aqueles que pensaram que este conflito ia durar 4 dias e não há já 42 anos transitando de geração em geração. Por outro lado, o Marrocos tem muitos problemas internos. É um regime decadente que em 1975 procurou os recursos do Saara, não para o benefício do povo mas da própria monarquia.

Qual o papel da Espanha?

Espanha fomentou este conflito ao não concluir um processo de descolonização ou ao não entregar o território às Nações Unidas. Portanto, Espanha deve ser parte da solução e não do problema, porque a paz no Magrebe passa pela solução do conflito saharaui. Mas há uma Espanha oficial e depois há a cidadania, que é quem alivia o sofrimento da população refugiada, compensando o deficit da ajuda humanitária, a que infunde uma dose de incentivo à população. É a cidadania quem ajuda a a salvaguardar valores, como a língua, e é ela quem acolhe as crianças saharauis em suas casas, superando o tema da guerra.

Qual a situação atual do povo saharaui?

A crise afetou muito a ajuda humanitária e o desenvolvimento, o que afeta diretamente a cesta básica das famílias, embora os saharauis tenham aprendido que os reveses se convertem em vitórias, na medida em que ao fim e cabo saem sempre reforçados.



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